As escolhas, o pântano e os crocodilos 6q4b6z
Quantas vezes já nos sentimos assim, inseguros, impotentes ou injustiçados como se estivéssemos no meio do lago, no meio rio ou no meio do pântano rodeados de crocodilos? E lá no meio nos sentimos, de alguma forma, nos sentimos aprisionados.
Ao que parece, em alguns momentos da vida, temos a sensação de que vivemos no pântano rodeado de crocodilos – aqueles temíveis animais semiaquáticos agressivos, predadores e carnívoros – porque as situações indicam que tudo parece está contra nós e não vemos esperanças em nada.
Essa metáfora – a pessoa no meio do pântano cercada por crocodilos – pode representar muito bem aqueles momentos que a gente se sente cansado das injustiças e alma acabrunhada ver dia a dia a esperança fluir entre os dedos das mãos e, do coração, desaparece a alegria e a felicidade.
O grande lago, o grande rio ou o grande pântano representam, nesta pensata, o grande tabuleiro da vida, à medida que – por toda a existência corpórea – a vida estará sujeita às diversas intempéries, relacionadas às questões políticas, sociais, econômicas, culturais e religiosas de um modo geral e, mais especificamente, vinculadas às individualidades pertinentes à saúde, ao trabalho, ao bem-estar, à realização profissional e à centralidade espiritual.
Nas questões socioeconômicas – quando a situação é a miséria e a penúria, gerando desigualdades sociais e o aviltamento da dignidade – o pântano e os seus crocodilos vorazes parecem intransponíveis. A pessoa se sente impotente e resignada.
A pessoa não vê perspectivas de melhorar a própria condição socioeconômica e da família e, para sobreviver, acaba se sujeitando a tudo ou a quase tudo, incluindo-se coisas que nunca imaginaria que poderiam acontecer com a sua vida.
O desemprego é uma espécie de grande pântano. A pessoa fica atolada em dívidas – dívidas que são como areia movediça. E não consegue sair do atoleiro. Falta-lhe também trabalho digno, outro pântano da dívida social. Os crocodilos representam as políticas socioeconômicas, aquelas que rompem as barreiras da governança e, desse modo, não priorizam a pessoa humana e ignoram o sublime princípio da prevalência dos direitos humanos.
Nessa condição, a pessoa torna-se refém das anestesiantes narrativas ideológicas, portanto, fica cega acerca do que é certo e do que é errado na vida política. A pessoa a a viver numa espécie de “dependencionismo” estatal – aquele tipo condição da pessoa que não é livre.
As narrativas em nome das “verdades” ideológicas – ao relativizar a ética, a democracia e os bons valores inerentes à dignidade humana – acabam promovendo mais desigualdades sociais, mais desigualdades de gênero, mais discriminações religiosas e mais desigualdades de raça e de cor.
Desigualdades promovidas na contramão do preconizado na Constituição Federativa, a qual é – ressalte-se – magnífica quando declara que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza” e quando anuncia como um objetivo fundamental da República “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.”
As extremas narrativas ideológicas divisionistas também podem ser comparadas ao grande pântano, notadamente quando a pessoa perde a autonomia de pensar e de agir de forma livre e consciente. É neste ponto que a pessoa nem percebe, mas já saíram de seu domínio, por exemplo, o direito à inviolabilidade de liberdade de consciência e de crença, o direito à inviolabilidade da liberdade de pensamento e de livre expressão.
A ideologia que relativiza a ética na coisa pública e que também relativa a vida e os valores que podem dignificá-la é, igualmente, uma espécie de grande pântano. No meio deste pântano, existe um turbilhão de situações que impõe temor e medo, e aprisiona as liberdades. Os crocodilos, nesta metáfora, também podem ser representados por aqueles que constroem narrativas massificadas para manipular ideologicamente as pessoas.
Mas, observe-se bem: tudo é resultado das escolhas e das decisões de natureza pública e privada, pois toda escolha e decisão – motivadas pela condição humana do momento (condição aqui tomada no sentido ontológico que designa a característica ou a essência que determina algo ou alguém) – produz um resultado imediato ou imediato, positivo ou negativo.
Mas como cada um pode identificar onde tudo começou">
Palavras-chave